top of page
original.jpg

"trem de doido"

Os marginalizados desembarcavam nos fundos do hospital, onde ficou conhecido e chamado de o "trem de doido", pelo escritor Guimarães Rosa, que trabalhou um curto período de tempo como médico no Colônia.  

HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS NO BRASIL – CONTEXTO HISTÓRICO.

PEDROII

De acordo com documentos históricos, em 1852 foi criado o primeiro manicômio no Brasil, mais especificamente, na cidade do Rio de Janeiro, o Hospício D. Pedro II, para onde os pacientes que se encontravam até então nas Santas Casas de Misericórdia, foram transferidos. A princípio, o Hospício D. Pedro II se tornou um alento para os que perambulavam pelas ruas sem destino e sem noção da realidade.
Com o passar do tempo, o hospital passou a ser alvo de criticas, relacionadas ao critério de admissão de pacientes e aos métodos de tratamentos utilizados, tornando-se um exemplo de má administração. Com superlotação de pacientes, passou a receber alienados sem perspectiva de cura, indigentes e também não teve seu programa terapêutico inteiramente implantado.  Ver mais em: Memória da Administração Publica Brasileira - Hospício de Pedro Segundo

Eu não sou Napoleão - Documentário sobre o cotidiano do Hospital Psiquiátrico Pedro II no Rio de Janeiro, Brasil.

A situação dos que sofrem com transtorno metal foi marcada por muito sofrimento e preconceito, e isso se comprovou pela história da humanidade pelo mundo e no Brasil. Após a chegada da família real portuguesa, em 1808, na cidade do Rio de Janeiro, mudanças começaram a acontecer na economia, na cultura, visando uma adequação ao estilo da corte e já naquela época os loucos passaram a ser vistos como o lixo da sociedade onde representavam uma ameaça à ordem pública. Com intuito de higienizar a sociedade, os desprezados eram trancafiados, isolados nos porões das Santas Casas de Misericórdia, onde viviam em condições desumanas.

JUQUERI

O hospital psiquiátrico Juqueri, projetado por Ramos Azevedo e fundado por Franco da Rocha, em 1898, em São Paulo, também teve uma trajetória cercada de denúncias e relatos negativos, principalmente por superlotação. Em apenas dez anos, entre 1957 e 1968, o número de pacientes no Juqueri se multiplicou, de 7.099 pacientes para 14.4385. A maioria dos pacientes não possuía nenhum diagnóstico de doença mental e mesmo assim permanecia presa na instituição pela ameaça que representava à sociedade. Projetado para ser, desde o final do século passado, o hospício-modelo da psiquiatria brasileira, ele passou por diversas crises, marcado por mais de um século de história (velada) de mortes, torturas e maus tratos relatados em diversos documentos históricos como o Memorial  da Resistência de São Paulo - Hospital Psiquiátrico do Juqueri e em  documentários como o Goulart de Andrade em Juqueri , O inferno do Hospital Psiquiátrico do Juqueri no SBT Repórter, e o artigo Breve análise do documentário "O inferno do hospital psiquiátrico do Juqueri”.
 

Goulart de Andrade em Juqueri - Reportagem produzida no fim dos anos 80, no Complexo Hospitalar Juqueri

HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA

Mas, dentre todos os hospitais psiquiátricos do passado no Brasil, foi o Hospital Colônia de Barbacena, situado em Minas Gerais, que ganhou destaque devido à sua história de horror!

Segundo a jornalista e escritora Daniela Arbex, no livro “Holocausto Brasileiro (2013)”, em que retrata a história do hospital Colônia, muitos não sabiam as razões pelas quais estavam sendo internados. Não havia critério para internação, e era rotina padronizar os diagnósticos. “Cerca de 70% não tinha diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, pessoas rebeldes, gente que tornara incômoda ou ameaçava a ordem pública. Eram meninas grávidas, violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento. Eram homens e mulheres que haviam extraviado os seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo Menos trinta eram crianças” diz Arbex. O Colônia foi transformado em destino de desafetos, militantes políticos, mendigos, negros, pobres, e, todos os tipos de indesejados, inclusive os insanos.
Os abandonados chegavam a Barbacena de trem, vindos de todos os cantos do país. Enchiam os vagões de carga da mesma forma que faziam com os judeus levados, durante a Segunda Guerra, para os campos de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia. Os marginalizados desembarcavam nos fundos do hospital. A composição  ficou conhecida e chamada de o "trem de doido", pelo escritor Guimarães Rosa, que trabalhou um curto período de tempo como médico no Colônia.  

Segundo Arbex, os pacientes do Colônia morriam de fome, frio e de doenças. Morriam também de choque elétricos. Em alguns dias, os eletrochoques eram tantos e tão fortes, que a sobrecarga derrubava a rede da cidade. Nos períodos de maior lotação, muitas mortes ocorriam, chegando a dezesseis em um único dia. Morrer dava lucro. Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para dezessete faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse, nem mesmo as autoridades ou familiares. Quando houve excesso de cadáveres, os corpos eram decompostos em ácido, no próprio pátio do Colônia, na frente dos pacientes, para que as ossadas pudessem ser comercializadas. Estima-se que cerca de 60 mil mortes ocorreram no Colônia até os anos 80.
 

Este documentário lançado em 2016 - dirigido por Daniela Arbex e Armando Mendz e baseado no livro homônimo de Daniela Arbex - mostra o genocídio que aconteceu no Hospital Colônia em Barbacena (MG) enquanto discute questões atinentes ao papel dos manicômios.

Fonte:  Luiz Alfredo/Acervo da Prefeitura de Barbacena

bottom of page