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"Já tentei suicídio, o carro já passou por cima de

mim!

Sr. Osvaldo nasceu em uma família muito humilde que o abandonou, além de seus dois irmãos, ainda crianças.

'Ele era agressivo, vinha pra cima de mim, não parava em casa, vivia sujo, comia comida do lixo com as crianças, dava muito trabalho", diz dona Helena.

No dia 27 de julho de 1989, mais precisamente às 7h da manhã, dona Helena Silva olha para o lado, em sua cama e seu esposo Osvaldo não estava lá. Uma moradia humilde debaixo da ponte, onde viviam, estava vazia, e nesse momento bate a angústia em seu coração, e o pensamento de medo e dúvida lhe desesperam. Aonde estará o seu marido? Dona Helena, então, se levanta apressadamente, sem pensar duas vezes, se troca, pega sua bolsa de tira e sai à procura de seu esposo pelos hospitais psiquiátricos de São Paulo, onde sempre o encontrava.
 

Essa situação era comum para ela, uma vez que seu esposo frequentemente tinha lapsos de esquecimento, saindo pelas ruas sem rumo, às vezes, se metia em confusão, sendo imobilizado pelas pessoas na rua; era internado, sem seu consentimento, em hospitais psiquiátricos,  como o Hospital Geral, Hospital Santa Marcelina, mas frequentemente na ala de psiquiatria do Hospital Planalto, na zona leste de São Paulo. Lá, segundo ele, sofria maus tratos. “Eu ficava internado no hospital Planalto, tinha muito maus tratos, amarrado na camisa de força, tentava levantar e os seguranças davam choque em mim”, relata Osvaldo Angelo da Silva. Dona Helena também diz que, “Eu via, no hospital Planalto, as pessoas amarradas, gritando, ele vinha pra cima de mim, sofri muito com tudo isso”.


Sr. Osvaldo nasceu em uma família muito humilde que o abandonou, além de seus dois irmãos, ainda crianças. Ele cresceu sem pai e sem mãe, sendo adotado por uma família, que, infelizmente, tinha um histórico de vício em álcool. Consequentemente, Osvaldo passou a ser viciado em bebida alcoólica, e para piorar a sua situação, ao completar a maioridade, foi diagnosticado com esquizofrenia! Em suas crises bebia muito: “Ele era agressivo, vinha pra cima de mim, não parava em casa, vivia sujo, comia comida do lixo com as crianças, dava muito trabalho”, diz dona Helena. 

Dona Helena era a esperança de seu Osvaldo. Mesmo depois de um período separado dela, eles voltaram, e ela não desistiu de ajudá-lo. Um dia o encontrou no viaduto do Tatuapé, pronto para se jogar, e por sorte, ela o impediu! Ele já havia tentando se suicidar várias vezes, até se jogando na frente de carro, em que, por pouco, não morreu. “Já tentei suicídio, o carro já passou por cima de mim, estou aqui por Deus, teve uma senhora que me tirou debaixo do carro, sem nenhum arranhão!”, diz Osvaldo.
 

Seu Osvaldo passou mais de 20 anos nesse sofrimento, sendo internado em hospitais psiquiátricos e tratado como alguém que deveria ser apenas detido, privado de seus direitos, sem dignidade e sem um tratamento adequado. Para ele, o seu único socorro efetivo foi o apoio de sua esposa que encontrou consolo na fé em Deus.          

Sua situação começou a melhorar após receber tratamento pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), unidades especializadas em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente. Ele recebeu um tratamento mais humanizado, que o ajudou a controlar a doença mental e o vício em álcool, que não o afastou do convívio família, nem o privou de seus direitos. Hoje, após sua situação ter sido controlada, aos 56 anos de idade, é acompanhado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No posto de saúde tem atendimento psiquiátrico adequado, recebendo medicação, e com isso, ele tem uma nova perspectiva de vida.

Após muito sofrimento, ele conseguiu o atendimento necessário, que trouxe de volta a sua dignidade e restaurou a sua esperança, mas infelizmente muitos não têm a mesma sorte, e acabam morrendo enclausurados em hospitais psiquiátricos, em prisões ou pelas ruas da cidade sofrendo todo tipo de maus tratos.

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